Por: Rogério Fernando.
Nos últimos tempos tenho visto muitos comentários, com questionamentos, dúvidas e até mesmo opiniões do senso comum em torno do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), ocorre que muitas vezes esses comentários podem levar as pessoas a caminhos equivocados ou não dar a devida importância para o desenvolvimento da criança que apresenta comportamentos compatíveis com o TEA.
Muitas vezes quando pais chegam aos consultórios para uma avaliação a criança já está em idade escolar e às vezes entrando na pré-adolescência, e quando perguntado aos pais ou cuidadores se não haviam observados determinados comportamentos eles relatam que sim, porém achavam que não seria o TEA, pois, um vizinho, um conhecido ao alguém achou que não era. E quando a criança adentra o período escolar, geralmente um Professor ou um profissional com um olhar mais cuidadoso com relação ao desenvolvimento infantil indica a necessidade de uma avaliação.
O primeiro passo quando se observa na criança por volta dos 3 a 4 anos de idade comportamentos compatíveis com o TEA é procurar um Neuropediatra, que solicitará uma avaliação neuropsicológica para que se possa confirmar o diagnóstico da queixa inicial de TEA, e saber se, trata-se de um Transtorno do Espectro do Autismo, leve, moderado ou severo, se há comorbidades com outros transtornos do neurodesenvolvimento entre outros comprometimentos comportamentais e cognitivos.
Segundo Schawartzman et al, 2018, a avaliação neuropsicológica é um valioso auxiliar não só no que diz respeito ao diagnóstico, mas também para evidenciar os prejuízos presentes e para serem mapeadas as habilidades presentes, o que pode nortear as intervenções a serem indicadas.
Em caso de confirmado o diagnóstico do TEA, uma das intervenções a serem indicadas no caso de déficits cognitivos, é a habilitação neuropsicológica, que irá proporcionar a criança um melhor desenvolvimentos das funções mentais superiores que estiverem com déficits, como a atenção, as memórias, as funções executivas etc. assim como o acompanhamento com o Neuropediatra, e com um Psicólogo Especialista no Transtorno do Espetro do Autismo, de preferência especialista em ABA (Applied Behavior Analysis) ou em português (Análise do Comportamento Aplicada). O ABA é também oferecido por instituições como cursos para pais e cuidadores.
Muito embora o diagnóstico de TEA deva ser feito por um profissional da área da médica, muito frequentemente haverá a necessidade de uma avaliação neuropsicológica que fornecerá dados referentes à inteligência do paciente bem como ao perfil cognitivo mais amplo Schawartzman et al, 2018.
No processo de habilitação neuropsicológica, o profissional irá realizar o acompanhamento semanalmente com a criança e ainda deverá propor um plano terapêutico em que a criança deverá realizar tarefas de estimulação neuropsicológicas diariamente, para o melhor desenvolvimento das funções mentais superiores que apresenta boa evolução e habilitar as funções mentais superiores que apresentam déficits conforme a avaliação que foi realizada, e após um período mínimo de seis meses a realização de uma reavaliação neuropsicológica.
Schawartzman et al, 2018, enfatiza sobre a avaliação neuropsicológica ainda, que, uma vez repetida após determinado tempo, fornecer dados mais objetivos sobre a evolução do caso e sobre a eficácia do programa de intervenção em curso. Avaliação da cognição social e das chamadas funções executivas trará informações imprescindíveis que nortearão os profissionais encarregados dos atendimentos terapêuticos.
Esses diagnósticos permitem mudar, nas palavras de Vygotsky (1992), de padrões sintomáticos para um estudo clínico do desenvolvimento. O diagnóstico neuropsicológico também pode identificar as transformações de relações funcionais cruzadas em diferentes níveis de idade típicas do desenvolvimento dinâmico dos sistemas funcionais da criança, Glozman, 2014.
Glozman, 2014, enfatiza que, uma avaliação neuropsicológica de crianças em idade pré-escolar muito provavelmente identifique risco para possíveis problemas de aprendizagem posteriores. Essas crianças em grupo de risco precisam de acompanhamento neuropsicológico e de uma avaliação dinâmica de seu estado funcional.
O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), no capítulo sobre Transtornos do Neurodesenvolvimento em que constam as descrições para avaliação do TEA, descreve que além do diagnóstico do TEA, é necessário especificar a gravidade que a criança apresenta como: A gravidade baseia-se em prejuízos da comunicação social e padrões de comportamentos restritos e repetitivos; a gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões e repetitivos de comportamento; se apresenta o TEA, com ou sem comprometimento intelectual concomitante; com ou sem comprometimento da linguagem concomitante; associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental, associado a outro transtorno do desenvolvimento, mental ou comportamental.
Entre as comorbidades, o DSM-V, especifica que o TEA é frequentemente associado com comprometimento intelectual e transtorno estrutural da linguagem, muitos indivíduos apresentam transtornos psiquiátricos que não faze parte dos critérios diagnósticos do TEA, relatando que cerca de 70% das crianças com TEA pode ter um transtorno mental comórbido, e 40% podem ter dois ou mais transtornos mentais comórbidos.
O profissional Neuropsicólogo irá avaliar além do funcionamento das funções mentais superiores, com relação ao desenvolvimento cognitivo, também o funcionamento psicológico e as observações com relação às gravidades acima citadas. Glozman, 2014 afirma que complementarmente, a descrição qualitativa de características diferenciadas, de forças e fraquezas do funcionamento mental de cada criança é essencial para a assistência efetiva às crianças com problemas de desenvolvimento e aprendizagem.
Portanto é essencial que se volte um olhar mais abrangente para as crianças que apresentam esse comportamento e que seja realizado um trabalho terapêutico e multiprofissional para um melhor desenvolvimento da criança.
(Rogério Fernando Silva - CRP:06/117703, Psicólogo Especialista em Neuropsicologia, graduado em psicologia com ênfase em processos educativos pela Universidade Nove de Julho, pós- graduado em Neuropsicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação – IPAF – Lev Vygotsky); Pós graduado em Docência para o Ensino Superior pel
Referências Bibliográficas
Cordioli, V et al. - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
Glozman, J. - Tarefas e Princípios da Avaliação Neuropsicológica em Crianças. In: A Prática Neuropsicológica Fundamentada em Luria e Vygotsky: Avaliação, Habilitação e Reabilitação na Infância. Trad. Carla Anauate; Revisão Técnica Larissa Zeggio Perez Figueiredo, Francisco Paulino Dubiela – São Paulo: Ed. Memnon, 2014.
Schwartzman, J. S – Diagnóstico. In: Cem Dúvidas Sobre o Autismo. São Paulo – Ed. Memnon Edições Científicas, 2018.